Flavia Bessoni

O pior medo que alguém pode sentir é o medo de existir

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Quando a questão é o encontro com o real, com o indizível, a imaturidade das pessoas logo emerge. E essa imaturidade vem em razão de a mamãe ter falado tudo, feito tudo e sempre mostrando o caminho a ser seguido.

Com isso o sujeito não teve condições de aprender a fazer leitura dos sinais, nem de subir uma escadaria, nem a cair e tentar levantar, enfim nem a expressar em palavras a linguagem que liberta.

Tenho um caso de uma pessoa que vivia sofrendo de pânico, e o acumulo disso durante os anos ia crescendo…ele tinha horror, por exemplo, de agendar horário para um compromisso e não se cumprisse, se houvesse mudança em algum projeto, aliás, qualquer tipo de mudança…e como se não bastasse, tinha medo do próprio pavor, pânico de avião, de ficar sozinho.

Um sujeito assim, vive numa bolha que trás a garantia da integridade dela, pois se houver alguma falta, alguma mudança no caminho…ela visualiza uma desintegração de si.

O psicanalista, há tempos se desintegrou, até mesmo pelo que a profissão exige, ele troça com as palavras (porque, se ele retornou, é por motivo de não ter perdido a guerra, ainda”).

É assim que aprendemos: perdendo, ganhando e tentando. Vamos estudando, aprendendo, o que nos modificando. Gilles Deleuze, um filósofo de grande importância, tirou a própria vida devido a uma grave enfermidade pulmonar.

Ele tinha pavor de avião mas isso não foi um impeditivo para que ele fosse um filósofo importante. Nem sempre o medo paralisa. O próprio medo pode fazer a pessoa produzir.

Voltando ao caso, a pessoa era tão apressada que assim que sua esposa faleceu, ele num ato continuum, se casou com a primeira mulher que lhe apareceu.

Se ele não se casasse logo, estaria psicologicamente a ponto de se desintegrar. Digo isso, porque no geral as pessoas têm uma carência gigantesca da figura materna e muitas entram em situações difíceis porque tem medo da existência. E há uma facilidade no medo porque ele é apavorante. Nasceu! Morreu! Nunca compreenderemos uma coisa: o mistério da vida e da  morte.

O pior medo que a gente pode sentir é o medo de existir, de viver…viver consiste em errar. Quando digo errar, digo errar etimologicamente…de não saber qual caminho, mas fazendo o caminho ao caminhar. Viver é sair do útero se desgarrando cada vez do discurso da mãe que vem anexo a essa proteção do eterno. Mas sempre há alguém vivendo preso no útero, no discurso da mãe, sendo tudo isso aterrorizante para ser evitado a todo custo. Viver consiste em errar, mesmo acertando qualquer caminho.

 

Flavia Bessoni

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