Hoje, assistindo ao jogo do Flamengo x Corinthians, me veio à mente o fascinante texto de Freud, “Psicologia das Massas e Análise do Eu”. É incrível como muitos dos fenômenos que ele descreve se manifestam de forma tão vívida em um estádio de futebol.
A massa, nesse contexto, é a torcida rubro-negra. Milhares de indivíduos, com suas singularidades e individualidades, se unem por um objetivo comum: torcer pelo time, vibrar com cada lance, sofrer com os percalços. Nesse momento, as diferenças individuais parecem se esvanecer, dando lugar a um sentimento de identificação coletiva. O amor pelo Flamengo se torna o laço libidinal que une essa multidão, como Freud descreve em relação ao líder.
O time, e em certa medida o técnico e os jogadores que personificam o sucesso e a garra, podem ser vistos como figuras que ocupam o lugar do ideal do eu comum da torcida. A paixão e a esperança são investidas nesses “líderes”, e a identificação com eles fortalece os laços entre os torcedores. Quando o time vence, há uma exaltação desse ideal compartilhado, um sentimento de pertencimento e triunfo coletivo.
Podemos observar também a regressão psíquica mencionada por Freud. Em meio à emoção do jogo, a racionalidade individual muitas vezes diminui. A torcida canta, grita, xinga o juiz em uníssono, movida por uma sugestibilidade coletiva. O contágio emocional é palpável: a alegria de um gol se espalha como um incêndio, assim como a frustração de uma derrota.
A força da massa reside nessa identificação horizontal entre os torcedores, unidos pelo amor ao clube e pela figura idealizada do time. Mesmo desconhecidos, sentem-se parte de algo maior, compartilham emoções intensas e agem de maneira sincronizada.
É claro que essa analogia não é perfeita e o contexto é diferente de uma massa política ou religiosa analisada por Freud. No entanto, o jogo de futebol nos oferece uma janela interessante para observar como os indivíduos se comportam em grupo, influenciados por laços emocionais, identificações e uma dinâmica coletiva que transcende a individualidade.
Que partida emocionante (ou tensa)! E que reflexão interessante podemos tirar até mesmo de um momento de lazer como esse. ❤️🖤